quinta-feira

PERPLEXIDADES

O artigo que abaixo descrevo não é da minha autoria, encontra-se em www.colheita63.blogspot.com , é um blog de um grande Amigo, de nome Helder Barreira, e a postagem foi efectuata por uma das muitas colheteiras, com o nome de Teresa. Antes de mais, quero agradecer ao Helder a autorização de publicar o artigo no meu blog, à Teresa que não conheço, o meu obrigado, e o meu sincero aplauso pela veemência como expôs o mesmo, apesar da minha condição de homem, estou integralmente de acordo com todas as interrogações nele contidas, obrigado pois, ou antes Bem Haja pelo mesmo.
«À medida que o tempo passa, cada vez tenho menos certezas. Colheiteiros, gente da minha idade, dizei-me que não sou só eu! Dizei-me que a realidade não é "preto ou branco", como nos parecia aos 17 anos. Dizei-me que devemos continuar a usar o bom velho princípio cartesiano (o "erro" de Descartes foi outro...) de alguma(s) vez(es) na vida pôr em dúvida aquilo que tinhamos por certo. Dizei-me que devemos continuar a pôr-nos no lugar do "outro", daquele que não pensa nem age como nós, para entender as suas razões e motivações, para não o julgar nem acusar em questões que apenas dizem respeito à sua consciência individual.

Vem isto a propósito do que tenho lido aqui no blogue sobre o que está ou não está em causa no referendo do dia 11/2...É que algumas afirmações, de tão peremptórias e absolutas, deixam-me perplexa! Por exemplo, falar de "vida humana" como valor absoluto, sem atender a modos e circunstâncias, é falar de quê? Do direito a nascer não desejado, correndo o risco de ser objecto de um processo de adopção kafkiano? De ser entregue, mais tarde ou mais cedo, a uma casa pia qualquer? De ser abandonado ou maltratado? Não sofrerão essas "vidas humanas" de um handicap fundamental face aos outros cidadãos, que nasceram desejados e têm muito mais probabilidades de ser amados e felizes?

Se se entende que a Constituição inscreve a vida humana como valor absoluto, porque não se contesta então a legislação de 1984, que permite o aborto em casos de violação, malformação do feto ou perigo para a vida da mãe? Não são também vidas humanas que estão em causa? Porque não se exige então a proibição absoluta?

Não era S. Tomás de Aquino (sim, esse mesmo, filósofo e doutor da Igreja...) que dizia que havia vida humana quando existia "alma racional", isto é, em termos científicos actuais, quando o feto tem já um sistema nervoso central capaz de funcionar autonomamente?

E a compaixão pelas mulheres que se vêem em situações difíceis? O Deus dos cristãos não é um Deus de misericórdia? Porque se aponta então o dedo acusador para uma única saída à mulher que abortou: a cadeia?

Depois há a história da "responsabilidade"...Amigos, aquele de nós que em todos os seus actos agiu com responsabilidade que atire a primeira pedra! Penalizam-se, por acaso, os alcoólicos, os fumadores, os comilões, por atentarem contra uma vida humana (a sua)? E deixam de ser tratados nos serviços públicos de Saúde porque isso fica muito caro, e o dinheiro dos nossos impostos podia ser mais bem empregue?

Há mulheres que engravidam por irresponsabilidade? Claro que há! E então, que saída lhes queremos dar? Obrigá-las a ter crianças não desejadas ou, em alternativa, mandá-las para a cadeia?

E porque é que só se fala em irresponsabilidade? As responsáveis, às vezes, também engravidam sem querer: há um preservativo que se rompe, uma pílula que não faz efeito por se estar a tomar antibiótico...Que me dizem? Cadeia com elas?! Finalmente a famigerada pergunta do referendo...Caríssimos, já somos crescidinhos!!! Por muito desastrada que seja a pergunta, todos nós sabemos o que está em causa: aborto clandestino e pena de prisão ou possibilidade de escolher até às 10 semanas, em consciência e em condições dignas, como se faz no mundo a que chamamos civilizado.
Não ir votar por causa da pergunta é embarcar numa falácia; abster-se é tomar posição a favor de um dos lados, o lado do não, porque se dá o sinal de que se quer que tudo continue na mesma...

Só mais uma coisinha: as estatísticas dos países em que o aborto foi despenalizado dizem que, aí, tem diminuído sistematicamente o número de abortos clandestinos. Exactamente o contrário do que li algures no blog da colheita63.»

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