domingo

Crónica do Fim Semana !!!

A Arte e o Sonho, ou há Países do Caraças...

Grande amador da verdadeira Arte que sou, estava há dias a passar os olhos sobre as célebres gravuras de Brueghel, quando uma delas me deixou estupefacto e verdadeiramente impressionado, quando me puz a observá-la. É aquela que se mostra abaixo e que, garanto, não é da minha lavra mas do grande Mestre Holandês, 1559-69:
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Isto fez-me lembrar qualquer coisa, e fiquei tão impressionado que, ao deitar, tive um sonho, ou antes, um terrível pesadelo.
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De facto, sonhei que vivia num País que, lentamente, se tinha vindo a transformar na maior área de exploração Agro-Pecuária da Europa, quiçá do Universo.
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A sua população estava dividida em dez estratos perfeitamente definidos:
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No topo da hierarquia, estavam os felinos, os todo-poderosos Lavradores, meia dúzia de Gatos-pingados auto-proclamados importantes, muitos que tinham amassado grossos Cabedais de modos ínvios e quase-secretos;
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Logo a baixo, estavam os Cães-Pastores, lacaios e capangas dos primeiros, indivíduos formados nos Partidos Políticos e que obedeciam, cegamente e sem vacilar, às directivas dos Lavradores, doesse a quem doesse. Estes dois estratos formavam as chamadas Élites.
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Logo a seguir, vinham os Porcos, que tinham como função nesta sociedade, comer toda a merda que as Élites, as Forças de Segurança e o Poder Judicial produziam. E acreditem que era muita.
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Era destes Porcos, em fim de vida útil, que se produziam os celebrados enchidos e secretos de Porco Preto, iguaria esta que os outros habitantes procuravam sofregamente, na esperança de ficarem a saber, por transferência genética, alguns dos segredos que eles guardavam até à cova (e isto em sentido amplamente figurado).
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As funções Judiciais eram desempenhadas por Macacos Monge, brasileiros, treinados pelos Pastores e, ocasionalmente, pelos próprios Lavradores, para ficarem aptos a resolverem casos mais bicudos, como os dos apitos (dourados, prateados ou simplesmente de pau, que também os havia), os dos peidófilos (pessoas que após ingerirem cabritinhos de leite, desenvolviam demasiada flatulência), e os do crimes de coleira branca e de abuso da manjedoura pública (ou de euros-gula).
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Eram chamados, pelos outros habitantes, de Macacos-Juízes.
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Para coordenar a Segurança e a Defesa, alimentavam-se bem as Mulas e importavam-se alguns Camelos bem ajaezados do Próximo Oriente. Obviamente, porque as Mulas , são sempre Mulas e os Camelos são escorreita e perfeitissimamente, Camelos.
No fim da cadeia, vinham as gentes comuns: as Vacas, os Bois, os Carneiros, os Cabrões e os Ratos.
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As Vacas, abriam as pernas e davam a toda a gente, a troco de mais palha;
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Os Bois, comiam o que as Vacas deixavam, e ruminavam em silêncio sobre os pares de cornos que os adornavam;
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Os Carneiros, faziam o que os Pastores lhes mandavam, e diziam “mééérda;
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Os Cabrões, aqueles que até sabiam que o eram, vagueavam pelas serranias;
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E os Ratos, escondidos nos alfôbres das Élites, farejando daqui e dali, iam comendo as migalhinhas que caíam das mesas para o chão. Dizia-se, à boca pequena, que esperavam pelo aperfeiçoamento da Engenharia Genética para, num futuro próximo, ganharem mais corpulência e subirem aos postos dos Pastores, disfarçados de Coelhos, e muito discretamente, alguns mantinham a secreta esperança de um dia chegarem a Lavradores.
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Mas isto eram apenas mexericos, desconfiámos que de invejosos, visto que, como é seu apanágio, os Ratos estavam quietinhos que “nem ratos”, e ao mais pequeno ruído, fugiam para as suas tocas e esperavam que a crise passasse.
Para um observador incauto, e habituado a outras vidas, como eu, que vivo na mais sagrada e ampla Democracia e com uma Constituição que me garante Virtualmente Tudo, este tipo de Sociedade em franco desenvolvimento, poderia parecer mal organizada, imoral (ou amoral, se preferirem) ou até mesmo decadente.
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Mas após um exame mais profundo, cheguei rapidamente à conclusão, e ainda no sonho, que o não era – antes pelo contrário.
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Após uma eleição por voto secreto (eleição que era necessária porque as famílias de Lavradores, todas elas aparentadas entre si por casamento, concubinato ou simples infedilidade conjugal, previram esta necessidade Democrática para aquietar a população), o Novo Governo democraticamente eleito em cada quadriénio, cumpria logo de início de funções as suas promessas eleitorais e aplicava o seu Programa Económico, dividindo o Rendimento Bruto proveniente da Tributação Fiscal (que por sua vez era dividida em Impostos Directos, Indirectos, semi-Directos e semi-Indirectos, Especiais e Adventícios, sobre o que se gastava e o que ficava por gastar, sobre os negócios e transacções (obviamente excluíndo Bancos, Companhias de Seguros, Empresas Estatais, pré-Estatais, pró-Estatais ou com comparticipação do Estado - Casinos e Casas de Jogo, Bares de Alterne e Equiparados (Casas de Meninas), Distribuição de Droga, Casas de Chuto, e outras Sociedades Civís sem Fins Lucrativos para
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Protecção dos Mais Carenciados, como se segue:
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• 85% do Orçamento Geral do Estado era consumido pelos Lavradores, parentes, amigos e conterrâneos, no Activo ou nos Quadros de Reserva do Estado, porque isto era um Estado de Direito... e de Graça.
• 9% do mesmo Orçamento era destinado à melhoria dos vencimentos dos Pastores, normalmente de 200%, cuja incansável actividade partidária tinha garantido a Eleição do Novo Governo, para assegurar que esta laboriosa classe viesse a garantir a Eleição do próximo.
• 1% exclusivamente para as vacas mais vistosas, que davam os leites (leia-se leitos) a Lavradores e a alguns Pastores mais importantes.
• 1% eram aplicado no aumento das Pensões de Reforma dos Lavradores e Pastores, que seria indigno para o país que fossem abaixo dos 30% ao ano.
• 4% restantes, para distribuír pela população, dentro da conhecida teoria do “cavalo do inglês”, não precisam de comer muito porque engorda, e a gordura é uma doença anti-social.
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Estes 4% eram equitativamente repartidos como segue:
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- 1% para os Porcos, responsáveis pela Higiene, Ecologia e Bom Nome da Nação;
- 1% para os Macacos-Juízes;
- 1% para as Mulas e Camelos;
- 1% para distribuír pelo resto da população, atendendo às seguintes prioridades:
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Metade para as Vacas, ou seja, mais 100 gramas mensais de ração especial à base de Farinha de Peixe, importada de Espanha, que lá nesse país, os habitantes já não gostavam do mar e pescar é bom para o preto.
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Bois, a outra metade, ou seja, mais 50 gramas mensais de palha liofilizada, proveniente do Canadá;
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Carneiros, ficavam na mesma, que fossem lá protestar com méés para o caraças;
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Cabrões, não levavam nada porque, envergonhados, tinham paradeiro incerto;
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Ratos, também não levavam nada, porque nunca faziam ouvir a sua voz.
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Os Reformados, de Porcos para baixo, não levavam nada, ou tirava-se qualquer coisinha, para ver se morriam depressa e assim ajudavam a equilibrar as Contas da Segurança Social.
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As reuniões ministeriais, entre Ministros ( todos Lavradores, Pastores e, ocasionalmente, um ou outro Camelo, Mula, Vaca ou Carneiro em vias de ascensão social), tinham chegado a um modus-operandi extremamente funcional e produtivo: como ninguém percebia nada dos assuntos em agenda, ficavam todos à espera da primeira “bacorada” que saísse, fosse quem fosse que a originasse (ao contrário do que se podia pensar, neste País as “bacoradas” não eram atributo exclusivo dos Porcos, pelo contrário, quanto mais alto estivesse o personagem, mais “bacoradas” podia dizer. (Não é aqui nem o local nem a hora, mas estou a preparar o “Livro Vermelho das Bacoradas” ditas pelos Lavradores e Pastores deste Governo,daquele, do do sonho, que tal como o Princípe do Maquiavel de antigamente, o Protocolo dos Sábios do Sião ou mesmo o 1984 do Orwell, irá ter lugar nas mesinhas de cabeceira dos próximos Governantes.
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Nestes calmos conciliábulos, o Chefe do Governo (que por acaso até era engenhêro) fingia pensar demoradamente sobre a “bacorada” expressa, e acabava dizendo: “ tá bem, deixem fugir a medida que nos propomos tomar para os media – se houver protestos, publicamos um desmentido, e tomamos a medida contrária, se ninguém protestar, só falta publicar a Lei.
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E assim, a Concertação Social entre todos os Sectoress do Estado e da Administração Pública, e a população em gera,l era perfeita e cobria todas as actividades não produtivas do País, porque na realidade, ninguém produzia a ponta de um corno: quando não quando, o Sindicato Democrático dos Carneiros, cujo Secretário-Geral era um Pastor “under-cover”, fazia uns gemidos em surdina e organizava as Grandes Festa da Carneirada, enquanto o Sindicato Social-Democrático dos Bois Castrados, dirigido por outro Pastor difarçado, fazia algumas manifestações Nacionais, com bem badaladas Vacas da TV, para a qual todos pagavam o respectivo imposto. Até os Mulas e os Camelos quizeram constituír um Sindicato, mas depois de alguns assobios do Pastor da Tutela e de ver os dentes do cães-polícia, contentaram-se com Associações. Que, diga-se de passagem, têm sido muito úteis, dado que com a quotização entre os membros, já podem comprar através da Associação, com descontos, a prestações e até a pagar com senhas de almoço, os coletes de segurança, os fardamentos estragados em perseguição de criminosos e Mk23 de contrabando, em vez de pagarem tudo à cabeça ou usar as Walter de 1941, em saldos de surplus de fins da Grande Guerra.
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Mas quer umas quer outras reuniões desta bicharada, acabavam sempre em bem, só com uns copitos a mais, porque “dar de beber à dor é o melhor, lá dizia a Mariquinhas”.
Os maiores espectáculos e actividades culturais desta Sociedade, em que a população se dignificava e ilustrava, eram:
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- Os dias da publicação das revistas cor-de-rosa, em que (pastores altamente especializados) inventavam notícias e escândalos, para alimentar a despudorada imaginação das Vacas de todas as raças, credos e opiniões políticas.
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- Os dias da publicação de jornais e revistas desportivas, nas quais escreviam conhecidos Pastores, e um ou outro Carneiro promovido, cujas opiniões, por vezes diametralmente opostas sobre a excelência dos Carneiros deportistas, as malandrices do Capãozinho do Litoral ou do Major Laureado ocupavam Bois, Carneiros e Cabrões durante a semana, sem mais distúrbios que umas ocasionais e inofensivas marradas uns nos outros.
As distracções populares eram:
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- Às horas das 14.800 telenovelas, horárias, diárias e semanais, de todas as procedências (do Brasil à Indonésia, e isto é que é Democracia, ver merda sem atender à origem, qualidade ou credo), actividade que substituiu a Bíblia como ópio do povo, de acordo com os mais variados Blocos de Esquerda e de Direita, ficar aparvalhados à frente do Televisor, 80% a ressonar.
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- As transmissões directas da Assembleia da República, que eram, de forma geral, um gozo ver, muito mais hilariantes que as débeis representações dos Miaus Fedorentos (e estes, realmente, fediam), obtinham records de audiência.
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- Também muito apreciados eram os discursos Trágico-Cómicos dos Presidentes da República (semi-Divinos e meditabundos Verbos de Encher) e dos Pastores ligados à Governação, especialmente nas alturas Eleitorais, principalmente porque não eram interrompidos por anúncios e podia-se dormir à vontade.
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Os desportos mais concorridos dos pobrezinhos (que ainda existiam um ou outro, mas por vontade própria, porque as oportunidades de dizer “bacoradas” eram iguais para todos, embora que uns mais iguais que outros), eram:
- passar os dias das semanas nas longas filas dos Postos da Segurança Social e nas Urgências dos
Hospitais.
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- Como desporto nocturno, repartia-se o povo entre duas actividades muito populares – ou contar à noite os centimos para no dia seguinte irem gastá-los nos remédios sem desconto da Farmácia ( e a Segurança Social aqui neste País não dava para tudo), ou em serões em família: o pai dava traques e a família aplaudia.
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Uma particularidade especial desta Sociedade, era o descaramento, a desfaçatez e a impunidade com que os Pastores “chegavam, diziam, tiravam o chapéu e iam-se...para Grandes Empresas ”.
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Estou-me a lembrar de ter sonhado, como que ao vivo, que assistia a uma cena protagonizada por um Pastor que não fazia parte das castas que mencionámos (este, por estranho acaso, era um Rato), que a dada altura de dez anos atrás, tinha dado uma entrevista dentro de uma estação de Metro, próximo (no espaço e na qualidade) das Obras de Sta Engrácia, à RTB (Rádio-Televisão da Bacorada), num cenário de Pastores vestidos a rigor, com capacetes de obras, apressados retoques de make-up, e tudo.
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Esta entrevista tinha sido dada e transmitida por todos os Canais devido ao facto do corredor por onde passaria o Metro, ter aluído. O Pastor-Ministro, pelos vistos perito em Obras Públicas, como se viria a comprovar mais tarde, com voz grave, dicção pausada, muito sério e o ligeiro sotaque saloio que o caracterizava, disse para quem o quiz ouvir : “Podeix xestar dexcanxados, porque a obra vai ficar pronta no prajo e xem encargus adixionais pró pobo”.
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Demitiu-se, quando deu outra bronca, mas dez anos depois a população do país ficou a saber que
apenas teve que pagar, a mais, trinta milhões de aérios (nome que neste país se dava à moeda corrente, pela velocidade com que voava das mão de cada um), fora o que ainda iria escorrer, quantia a todos os títulos, insignificante...para ele, Pastor, que por acaso até foi a Presidente do Conselho de Administração da Construtora do Gil (aquela que construía o túnel do Metroplitano mas também a Casa do Gil).
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O Pastor-Rato, por onde andava ? Passado à clandestinidade mediática, algumas investigações subsequentes levaram à conclusão de que afinal não era bem um Rato vulgar, mas um Rato corpulento a quem alguém teria cortado o rabo e com três intervenções de cirúrgia plástica, passava por Coelho. Como todos os outros seus colegas de espécie, ficou caladinho que nem um rato e nunca mais ninguém o viu...ou culpabilizou. Espantoso!
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Deste Pastor-Rato-Coelho, contavam-se muitas Histórias e só a título de exemplo vou contar uma que ouvi repetidas vezes de Carneiros diferentes: dizia-se que o Pastor-Rato-Coelho, no princípio da carreira, tinha ido em visita oficial à Itália e tinha sido recebido em casa do Ministro da Obras Públicas do Berlusconi.
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À chegada, ficou estupefacto com o “estadão” do Ministro: Palacete Renascentista, frota de 14 automóveis (em que o mais baratinho era o Rolls Silver Shadow) 6 motas de alta cilindrada (entre as quais uma Laverda de edição limitada), um helicóptero no seu heliporto nas trazeiras, jardim semi-tropical, duas piscinas Olímpicas (uma delas coberta e com aquecimento centra), um camião atrelado a um semi-reboque que ostentava um iate de 48 metros, enfim, o Pastor-Rato-Coelho estava sem fala, mas por fim titubeou – “Ma, ma, lei sei Rico? E o Ministro disse – “Io, rico ?, No, no, vedi quella autostrada ?” E o Pastor Coelho “–Ma, ma, qualle autostrada ?” e o Ministro, secamente – “Precisamente !”
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Depois da bronca da Estação do Metro, foi a vez do Italiano visitar este maravilhoso País da Carneirada, e o Pastor-Rato-Coelho lá estava no Aeoporto à espera do jacto particular do Ministro, ao volante do seu Maseratti 4.2. Levou-o à Quinta da Marinharia (chama-se da Marinharia porque se assume que os que lá vivem, são como os marinheiros, nem carne, nem peixe) e foi a vez do Italiano ficar deslumbrado: 18 hectares de relva, com canteiros floridos por tudo quanto era sítio, caminhos na relva em mármore de Vila Viçosa, via Carrara, estátuas helénicas dignas de Museu, um Palacete árabe com retoques Rócócó (na verdade mais cócó que Ró), e em frente da entrada, 22 carros de colecção digna dum Príncipe Saudita, 12 motas, 2 motas de areia, 5 motas d’água, três iates nos respectivos semi-reboques, dois helicópteros (um dos quais da Força Aérea com piloto e tudo), enfim, o Italiano estava embasbacado e disse “, Ah, ma ancora lei si, lei e rico “ . E o Pastor Coelho respondeu “No, no, vedi quella stazione di Metro ? E o Italiano perguntou- “Qualle, quella qui no lavora sei ani fa ?” E o Pastor Coelho respondeu – “Precisamente”.
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Toda a população, Bois, Carneiros, Cabrões, Ratos (aqueles que não têm posses para se tornarem Coelhos) e muitas das Vacas, tem um medo que se pela de se dirigir a Tribunais, Polícias, Finanças, Repartições Públicas ou Autárquicas, Hospitais, enfim, de todas as Instituições que cheirem, mesmo que levemente, a Governo; e este medo tem ampla razão de ser: entram de peito feito e saiem de lá por duas portas: por uma, tosquiados até à medula, por outra, presos, prenhos e entregues ao Governo, com penhora automática dos bens que possuirem. Mas isto só acontece de Porcos para baixo.
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A propósito, fiquei a saber que uma das actividades preferidas da Élite daquele País, era inventar, e fazer chegar aos Media (através dos Porcos, claro está), aleivosias graves sobre os seus colegas que estavam no Governo ou que tinham atingido lugares de proeminência social (assim como a fama do Clinton).
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Contou-me uma idosa Senhora, que morava lá para Belém do Pará, que um dia rebentou um escândalo sobre uns figurões que contratavam meninos (mas já espigadotes), directa ou indirectamente (através dos Porcos, sempre os Porcos), e espalhou-se que neles praticavam sevícias sexuais. Esta cena parece, pelo que a idosa Senhora me disse, que foi uma “fita” que deu brado !
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Ele foi investigações de Mulas e Camelos, ele foi audiências de Macacos-Juízes, ele foi Pastores-Procuradores, Pastores-Advogados, Pastores-Comissários, Carneiros-informadores, foi um verdadeiro pandemónio. Um dos Macacos-Juízes, novo no lugar e que batia muitas vezes no peito, assim tipo Tarzan, mandaram-no pastar caracóis para uma terreola de 223 habitantes, que lá não tinham Macaco-Juíz, e “considere-se promovido e não diga que vai daqui”, disse o Ministro da Tutela.
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Ao fim e ao cabo, o Processo foi Arquivado, não por falta de provas, como alguns ignobilmente alardearam, mas antes pelo contrário, por as provas serem em demasia e contraditórias: verificou-se que os meninos (já espigadotes), não eram seviciados, mas que, pelo contrário, recebiam uns “presentes” mas era para “paparem” os tais figurões que os contratavam.
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Os figurões em causa tiveram que passar a vestir-se de Travestis e frequentar o bar de Gays que um qualquer maroto Presidente da Câmara (diziam que de passado duvidoso, cala-te boca) tinha inaugurado na cidade havia algum tempo.
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A mesma Senhora disse-me ainda que o que estava a dar, lá nesse país, era abrir contas na Suíssa, não para fugir ao Fisco ou para lavandaria de aérios, nada disso, mas para depositar os dinheiros para a subsistência dos familiares que por lá andavam perdidos, sem eira nem beira, coitados. Até a Suissa ja anda tão por baixo !
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Falou-me de um caso, que chegou a ser noticiado na página 9 (a dos anúncios) de alguns tablóides, protagonizado pelo Presidente da Câmara Municipal das Eiras, que apenas lá tinha uns tostões depositados a favor dum primo, porque parece que teria negociado uns terrenos, lá nas Eiras, que eram desse primo e estava a pagar-lhe em prestações mensais, pobre mas muito honesto Pastor, conforme podia.
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Afinal, e depois de muito bem investigado o caso, a denúncia tinha sido falsa (inveja, neste Páis, há muita), o Pastor-Presidente foi apenas condenado a Serviço Cívico, e lá voltou para Presidente da Câmara das Eiras
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Esta Senhora e as amigas, que se encontravam todas as tardes “às cinco en punto” para o ritual do cházinho da Dona Ângela, e para distribuír alguns pares de bandarilhas nas efígies de vacas e carneiros mais notórios, contaram-me tantas histórias que, se eu as tentase escrever, dariam mais volumes de capa e espada (salvo seja) que o Rocambole do Ponson du Terrail. Mas eu não quero ser tão famoso como a Oprah e não conto mais.
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Acordei, em sobressalto, com o despertador fisiológico a dizer-me que estava na hora do chi-chi nocturno; com um travo amargo na boca e a estranha sensação de que já “tinha visto este filme”, lá fui mudar a água ao bacalhau e emudecer os alarmes angustiantes da bexiga.
Depois de lavar as mãos e de algum meditar, fui à estante buscar um Livro e fez-se luz no meu conturbado espirito.
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Os Lavradores e Pastores daquele País estavam a seguir, à letra, os conselhos do Protocolo dos Sábios do Sião. Vejamos só um exemplo do Capítulo V, Como tomar conta da opinião pública ?: “...O segundo (segredo) para governar com êxito, consiste em multiplicar de tal modo os defeitos do povo, os hábitos, as paixões, as regras de viver em Comum, que ninguém possa deslindar esse caos e que os homens acabem por não se entederem mais uns aos outros. Essa tática terá ainda como efeito lançar a discórdia entre todos os partidos, desunindo todas as forças colectivas que ainda não queiram submeter-se a nós; ela desanimará qualquer iniciativa, mesmo genial, e será mais poderosa do que os milhões de homens nos quais semeamos divergências...” .
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Só acrescento que, pela nova classificação de Países Mundiais inventada pelos Americanos (quando estavam a construír Guantanamo, e por lá já passaram muitos americanófilos e irão passar muitos mais), ou seja Países do Primeiro Mundo, do Segundo Mundo e do Terceiro Mundo, eu sei que o Senhor Bush disse que existiam, e que realmente existem, alguns países, como este com que sonhei, que não cabem em nenhuma destas categorias, pois já nem sequer chegam aos calcanhares das tradicionais Repúblicas das Bananas (que infelizmente continuam desclassificadas) – são, outrossim, países de Bananas, governados por Sacanas.
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Mas o diacho do sonho deu-me muito que pensar – tanto, que já não consegui reatar o sono e fui para a cozinha fazer uma dobrada à moda do Porto, com um tinto de Vinhais, petisco que sabe sempre bem a qualquer hora. Mesmo às cinco da manhã.
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Teria mesmo sido um Sonho ? ou reminiscências de memórias ? ou presciência futura ?
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“Qui sa, qui sa, qui sa”, como diria o Nat King Cole.

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