terça-feira

A primeira Bofetada

A primeira bofetada, lembro-me como se fosse hoje, ainda quando entro na sala que recriei com os móveis dos meus pais, está presente e estará sempre presente, nunca o esquecerei.
Encontrava-se o meu pai preso na cadeia do Aljube, para quem não se lembre ou que nunca soube, a cadeia do Aljube, perto da Sé, onde agora funciona o Instituto de Reinserção Social, permaneciam os presos políticos que estavam a ser interrogados na sede da PIDE, na Rua António Maria Cardoso.O Aljube era pois uma prisão destinada aos presos politicos, ou seja quem não era a favor do regime era preso pela policia politica do regime, a Pide, era "a pior prisão do fascismo", onde permaneciam "em condições indescritíveis" os presos políticos que se encontravam em fase de interrogatório.
Uma determinada brigada dessa horrenda policia veio mais uma vez vasculhar a casa onde moravamos, na Venda Nova á procura de material de propaganda politica que pudesse incriminar o José David, o meu pai. Eu era um pirralho, dizia a minha querida mãe quando contava esta história, deveria ter cerca de três anos, saltava constantemente para as cadeiras da sala e pulava para a mesa, barafustando e praguejando com tal gente, «Quero o meu Pai» era o que eu gritava, no meio de soluços, diz a minha mãe que um dos agentes perdeu a cabeça, se é que a tinha, e pregou-me um valente estalo, mas que eu mesmo assim não deixei de barafustar com tal gente.
São coisas que não esquecem e que fazem parte da minha memória, eis pois a razão porque me veio á ideia de deixar escrito neste meu blog tal acontecimento, para uns não terá qualquer valor, para mim marcou a minha infância, obrigou-me a crescer e a ser Homem.

2 comentários:

RuFa disse...

Gostava de fazer um comentário a esta história, mas cheguei à conclusão que não há comentários.
Não deixas de gritar.

pulanito disse...

Só me lembro de Manuel da Fonseca.

"Eu realizei os meus sonhos, sonhando-os.
Não deixes que nenhum filho da puta te roube os teus sonhos."

Que belo pai tiveste, que generoso exemplo seguiste. Viva o José David!