sexta-feira

O meu gato Licas !!!

O Licas: foi o meu primeiro gato, era eu uma criança, com ele passei tempos que julgava já ter esquecido… mas não! É por isso que vou tentar contar alguma coisa sobre o Licas.
Era eu um puto, talvez com os meus cinco a sete anos, andava a brincar na rua e vi um fiel amigo a ladrar a um pobre bichano alaranjado, pequeno por tal sinal como eu, armado em salvador, coisa que ainda hoje tenho a mania, agarrei o pobre bichano e com ele espalmado contra o peito, e com o cão a ladrar nas minhas canelas, lá consegui bater à porta de casa, escusado será dizer que todo eu era arranhões com algum sangue à mistura, a minha mãe julgava que era um Cristo, ficou sem saber se me havia de dar uma sova pelo disparate cometido, ou tratar-me dos arranhões, a verdade é que o dito bichano depois do meu choramingar, teve autorização para ficar lá em casa, mal ele sabia o que o esperava, começou por ser baptizado com o nome de Licas.

O Licas, não era um gato normal e verão porquê:
Dormia comigo, mas ao contrário dos gatos normais que se enroscam e dormem ao fundo da cama, este deitava-se dentro da roupa todo estendido, como se de um adulto se tratasse.Brincávamos muito, os meus pais iam trabalhar e eu ficava com o Licas, tinha com ele brincadeiras, umas normais, outras animalescas, uma delas a que me está mais fresca na memória, isto porque já lá vão uns bons cinquenta anos…., era meter o Licas numa meia velha da minha mãe, daquelas que se faziam as bolas de trapo, e atirava o pobre gato pelo chão da pequena sala de jantar, vezes sem conta, mas a verdade é que ele não se zangava e alinhava com o traquinas do dono.

Uma outra brincadeira que tinha com o Licas, era deveras impressionante, eu estendia-me no chão da cozinha fazendo-me de morto, o gato começava a andar á minha volta e quando pensava, julgo eu, que alguma coisa não estava bem, começa a morder-me na cabeça até eu deixar de fingir de morto.O Licas era sempre quem pagava as favas dos meus desvarios, quando eu partia alguma coisa não era eu…. era o Licas. Lembro-me perfeitamente, a minha mãe tinha-me dado um tipo de metralhadora de plástico que atirava berlindes, a dita metralhadora partiu-se, estragada por mim claro, mas quando a minha mãe me ralhou quem pagou as favas foi o Licas, ainda hoje recordo a minha saudosa mãe a contar a história, a choramingar dizia eu: «foi o Licas mãe, foi o Licas que estragou a metralhadora».
Não sei se estão recordados que as portas da rua que tinham casas baixas, tinham quase todas umas mãozinhas, que serviam para bater á porta, bem o Licas pregou sustos enormes à minha pobre mãe, e porquê? O meu pai republicano dos sete costados era visitado com bastante regularidade pela maldita polícia da Pide, que o vinha prender de noite, eram educados batiam à porta, umas vezes com a mãozinha outras com os pés. Não é que o Licas quando ia passear de noite, fazer as suas visitas, ao regressar tinha o hábito de bater à porta com a dita mãozinha, esticava-se todo e largava a mãozinha, ou seja batia à porta. A minha mãe levantava-se e abria o postigo só que não via ninguém, estão mesmo a calcular o que a pobre da minha mãe sofria, até que um dia lá se descobriu que era o Licas, o visitante nocturno.
Com o decorrer do tempo, as brincadeiras e as atenções com o Licas foram acabando, saía cedo de casa para o trabalho e como estudava à noite, mal via o Licas. Um dia sei que cheguei a casa e o Licas bichanou imensas vezes com muitas turras nas minhas pernas, já era velhote, eu não percebi ou talvez não tenha ligado, abalou e nunca mais o vi, mais tarde a minha mãe é que me disse que tinha morrido num dos telhados da rua.
Obrigado Licas por tudo.

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