terça-feira

Passeio para esquecer ?

Foi assim que tudo começou, inscrevi-me eu e a Sílvia num passeio que a Associação dos Amigos de Albufeira levava a efeito às Aldeias Históricas de Portugal.Depois de termos corrido diversas Aldeias, chegamos à Aldeia da Sortelha, armado em descobridor, subi a um monte com a pretensão de chegar a um belo varandim colocado no alto do monte, com alguma dificuldade é certo, mas consegui subir, a descida já foi feita com alguma dificuldade, pois tinha começado a chover e o terreno estava escorregadio.Já no final, depois de saltar de rocha em rocha, encostei-me a uma escorreguei e cai, a chuva podia ser uma boa desculpa, mas a asneira foi toda minha, pois não levei em conta o estado do terreno e os meus 106 kg, claro que quando cai tive logo a certeza que algo de ruim tinha acontecido ao meu pé!!!Esperei que alguns colegas do passeio chegassem e me dessem uma ajudinha colocar-me em pé, o que já não foi fácil, rapidamente conseguiram que um habitante local me desse boleia até ao autocarro, onde se tomou a decisão de ir directamente para o hotel, pesou na consideração o não chamar os bombeiros ou o 112, pois daquele local o destino seria o Hospital da Guarda, o que para a Sílvia seria uma grande trapalhada, até ao momento não faço ideia se foi a melhor decisão.Já perto do Hotel foi contactado o 112, pelo que pouco tempo depois da minha chegada, a ambulância chegou, foi relativamente rápido.Hospital da Covilhã: Pareceu-me ter bom aspecto, o rastreio foi relativamente rápido, talvez por as urgências estarem quase vazias. Estive sim, demasiado tempo para ser visto pelo Médico Ortopedista, que por sinal era Croata e coxo, pois tinha sido atropelado por uma colega no recinto do Hospital, tiradas as radiografias, confirmou-se que tinha uma fractura bastante grave no tornozelo.O médico que me achou com cara de pessoa inteligente, colocou-me a seguinte questão: era internado e provavelmente estaria quatro a cinco dias à espera que o inchaço do pé baixasse, pois no seu entender o inchaço não permitia a operação de imediato, ou como era de longe aguardaria que a minha família me pudesse vir buscar. Optei pela segunda via por julgar ser a mais cómoda para a família, assim regressei ao Hotel com a perna e o pé enfeitado por uma bela tala de gesso.Hotel: Aqui começou o inferno, para me mexer ainda que acompanhado por uma canadiana comprada numa farmácia local, os Amigos que ansiosamente me esperavam, lá se prestaram a ajudar a minha caminhada, foi um autêntico feito andar aqueles 50 a 100 metros, não consegui chegar ao restaurante, fiquei sentado no bar, a fome também não era muita, lá comi meia tosta e uma cerveja. Se tinha sido um inferno chegar até ali, o que dizer para chegar ao quarto, foi uma aventura e um grande esforço para quem me acompanhou nessa tarefa.Lá consegui suportar as dores e esperar pelo dia seguinte, entretanto já tinha tomado a decisão de ir novamente ao Hospital, fazer o internamento, e esperar pela operação.Hospital da Covilhã: Tornei a repetir toda a panóplia das medidas de rastreio, e depois de longo tempo de espera fui atendido pelo Director do Serviço de Ortopedia, transmiti-lhe que tinha reflectido e que tinha tomado a decisão de ser internado e operado no respectivo hospital, conforme o Médico Croata me tinha sugerido, pois não me encontrava em condições de fazer a viagem.Director do Serviço de Ortopedia: de imediato a sua reacção foi que era impossível o internamento, teria que ir para o Hospital da minha área de residência. Perguntei-lhe qual a razão, e o esclarecimento foi que os Hospitais tinham o seu orçamento, e por isso teria sempre que me enviar para Faro.Depois de um tal esclarecimento, onde o controlo de custos se impôs às decisões médicas, a minha pergunta foi simples: Como faria a deslocação? Aconselhou-me a contactar uma ambulância para me deslocar, como já estava a ficar com o feitio azedo, perguntei, então caro Doutor, se por acaso fosse familiar do nosso primeiro ministro, o Sr. já teria dado ordem para o Helicóptero aquecer os motores, e esqueceria simplesmente os custos. Ficou apreensivo, pensou, e repensou, acabou por decidir ser o Hospital a requisitar uma ambulância, mas a Sílvia, minha mulher, teria que se deslocar por sua conta a não ser que os Bombeiros permitissem o seu transporte, ao falar com os Bombeiros, a resposta inverteu-se, teria que ser o Sr. Director a dar autorização.Conclusão: Como o responsável dos serviços já devia estar farto da minha presença, a custo lá autorizou a que a Sílvia se deslocasse na mesma ambulância, o receio que eu ainda lhe estragasse o orçamento do mês deve ter pesado na sua consciência.
Infelizmente a “economicite” aguda está toldar as decisões daqueles que deveriam ser verdadeiros responsáveis em áreas como a saúde, os custos não podem nem devem ser superiores aos interesses do cidadão.
A Constituição não é cumprida, e a corrupção social é um facto, é esta a herança que um Governo que se diz socialista, está a implementar na nossa sociedade.Viagem até Faro: Foi feita normalmente, vim todo o tempo deitado sujeito a uma verdadeira massagem global tal era a trepidação, pensei seriamente se iríamos chegar inteiros ao Algarve, eram dois rapazes novos, a ambulância coitadinha era das velhotas, enfim não se pode ter tudo. Após uma pequena paragem em Abrantes para almoçar, os Bombeiros e a Sílvia lá foram comer umas boas “queixadas de porco”, eu fiquei na ambulância juntamente com um pacote de bolachas.A viagem foi relativamente rápida e por volta das 17:00, chegava-mos ao final da viagem, de novo era entregue aos serviços de Urgência, desta vez do Hospital de Faro, iria começar pois o suplício.