terça-feira

Homenagem a Morais e Castro


Faleceu Morais e Castro, um intelectual ao serviço da cultura e do povo português. É com profundo pesar que o Partido Comunista Português deixa a sua homenagem a um homem que lutou toda a vida e, por isso, como afirmou Bertolt Brecht, foi, é e será um dos imprescindíveis.

Aos órgãos de informação:

Faleceu Morais e Castro

Faleceu Morais e Castro, um intelectual ao serviço da cultura e do povo português.

José Armando Tavares Morais e Castro que dentro de um mês completaria 70 anos de idade, era militante do PCP, ao qual aderiu ainda muito jovem, tendo assumido altas responsabilidades de apoio à direcção do Partido antes e depois da Revolução de Abril.

Sócio fundador do Sindicato dos Trabalhadores de Espectáculos, integrou desde a Revolução de Abril o Sector Intelectual da Organização Regional de Lisboa do PCP, de cuja direcção continuava a fazer parte. Candidato pelas listas da CDU a Lisboa nas próximas eleições autárquicas, era actualmente eleito na Assembleia de Freguesia dos Anjos.

Destacou-se pela sua actividade enquanto advogado e grande figura da cultura portuguesa. Nas artes do espectáculo, Morais e Castro estreou-se profissionalmente no Teatro do Gerifalto. Passou pelo grupo Cénico de Direito e integrou o Teatro Moderno de Lisboa. Em 1968, é co-fundador do Grupo 4 no Teatro Aberto. Representou autores como Peter Weiss, Bertolt Brecht, Max Frisch, Peter Handke e Boris Vian. Contracenou com Mário Viegas na peça À espera de Godot de Samuel Beckett. Em 2004, interpretou O Fazedor de Teatro com Joaquim Benite na Companhia de Teatro de Almada que lhe valeu a Menção Honrosa da Crítica.

Estreou-se no cinema com Pássaros de Asas Cortadas de Artur Ramos. Participou em programas de rádio e, estreia-se na televisão em o Rei Veado de Carlo Gozzi, realizado também por Artur Ramos. Desde então, participou em novelas e séries televisivas com grande destaque para as Lições do Tonecas.

Morais e Castro era actualmente da Direcção da Casa do Artista, do qual foi sócio fundador. O seu desaparecimento deixa a cultura portuguesa mais pobre. A sua determinação e firmeza em defesa da classe operária e dos trabalhadores radicava no seu optimismo jovial e na confiança nos ideais que defendia. É com profundo pesar que o Partido Comunista Português deixa a sua homenagem a um homem que lutou toda a vida e, por isso, como afirmou Bertolt Brecht, foi, é e será um dos imprescindíveis.

O corpo de Morais e Castro encontra-se, a partir das 20h00 de hoje, no Palácio das Galveias em Lisboa, realizando-se amanhã, domingo, ás 15h30, o seu funeral no cemitério do Alto de São João.

22.08.2009

O Gabinete de Imprensa do PCP

Morais e Castro

É costumeiro estabelecer como regra que existem apenas duas formas de 'explicar' o actor português: ou é capaz de se desdobrar em personagens diferentes sempre tratadas de maneiras distintas, ou representa sempre da mesma maneira, à espera que um dia uma personagem o 'encontre' e caiba por inteiro nos seus maneirismos e tiques.
De Morais e Castro bem se pode dizer que viveu, ao mesmo tempo, a alegria de procurar a personagem que lhe assentasse como uma luva e o embaraço de nunca a ter encontrado.O cinema parece ter feito questão de passar, bem ou mal, sem ele. A televisão já dele fez caso e repetidas vezes. Do teatro feito para o pequeno ecrã (o que foi escrito ou rescrito a pensar na TV ou filmado de maneira a que nela coubesse...) às telenovelas às quais ele deu os favores do seu estilo único praticamente desde o início da aventura do género à moda lusitana, o 'jeito' peculiar de Morais e Castro passeou-se como uma garantia, uma apólice de seguro: a perfeição não estava em fazer tudo bem, mas antes em não fazer nada errado.
Com uma carreira sólida de mais de meio século, Morais e Castro sempre foi o 'actor normal', o representante daquele talento a quem o génio nunca assiste e que, por outro lado, assegura que as pontas soltas nunca arruínam o ramalhete.
Não foi o homem de quem se falava, mas era o actor com quem se contava, o que para um artista que teve por ambição maior fazer bem as coisas é epitáfio que chega e por pouco sobra.É também mais um caso em que a ausência de arquivos filmados acaba por resumir o primeiro quarto de século do seu labor às memórias daqueles que com ele trabalharam e que ainda nos dão a alegria e graça de por cá estarem, de Carmen Dolores e Ruy de Carvalho a Irene Cruz, Rui Mendes ou João Lourenço.
O profissionalismo imaculado e a cidadania activa são as referências reincidentes. É o que de mais acertado de Morais e Castro se pode dizer.O grosso do público, o que deu de caras com ele com o advento das cores televisivas, há-de sempre lembrar-se dos seus esgares de saudável indignação como professor do menino Tonecas, o mais divertido dos calões, maroto de primeira apanha.
Quem quiser apontar o dedo acusador ao defunto actor, pode sempre insistir nesse dia de arromba em que Morais e Castro leu a mensagem de um enfermo Álvaro Cunhal ao congresso que prometia a renovação no 'seu' Partido Comunista.
A 'declamação' devolveu o partido à escuridão sectária durante mais anos do que o bom senso estaria disposto a suportar. Para os detractores do actor, 'aquele' foi o seu melhor papel.Fica, contas feitas, a ideia de um homem comum e de um actor a condizer, a quem faltou a personagem que se lhe colasse como o teatro fez com ele desde miúdo e que, mesmo sem um golpe de asa capaz de deslumbrar, foi capaz de dar conta do melhor recado: ser um profissional, tocado pela impecabilidade.