segunda-feira

O Post que não escrevi !!

José David pintado por seu filho Alberto David

Este é um post que escrevi no verão passado, mas por razões que a razão desconhece não chegou a ser publicado.
Há pouco falava no facebook com o meu amigo Alberto David (filho do protagonista) dizendo-me ele que andava a pintar o seu “velhote”. De repente fez-se luz e lembrei-me do texto que agora convosco partilho.
Ontem fui “sardinhar” lá para as bandas de Albufeira a casa dos amigos Alberto David e da Silvia.
A coisa não seria motivo para postagem, não fosse a curiosa história de vida do pai do nosso anfitrião, homem já falecido no inicio dos anos 80, natural da Messejana e que respondia pelo singelo nome de José David.
Do que pude esgravatar da memória do Alberto David, ficou-me a imagem do seu corajoso progenitor, homem que viveu na clandestinidade grande parte da sua existência e quando tal não acontecia era porque estava numa das múltiplas prisões do Estado Novo.
Em finais do século XIX nascia no seio duma família abastada que vivia na Vila da Messejana, perto de Aljustrel, um rapaz a quem foi dado o nome de José David.
José David viveu nesta localidade a sua infância e adolescência. Por lá aprendeu a ler, escrever e contar bem como a polir a sua costela republicana que a cada ano que passava ia ficando mais e mais brilhante.
Quando esta chegou a 5 de Outubro de 1910, José David deu consigo a chorar sem se poder conter. Depois de enxuto o rio que lhe desaguava cara abaixo, José David percorreu as ruas da sua vila natal exultando de alegria e convidando os outros Messejanenses a deslocarem-se a Aljustrel onde celebraram a implantação no novo regime vigente.
Nunca mais na sua vida, José David deixaria de comemorar este dia de forma efusiva e emotiva.
Por alturas da chegada da República muda-se para a Vidigueira onde a sua militância republicana é praticamente a sua razão de viver.
Os novos ventos da República traziam uma aura de esperança aos mais desgraçados que com a sua chegada eram promovidos à condição de humanos com direito a cédula com nome apelido e tudo.

Mas com um país à beira da ruptura moral e financeira, não há ideal que resista, ainda por cima rebenta na Europa a Primeira Guerra Mundial, o que vem agravar ainda mais o estado da paupérrima nação à beira-mar plantada e muitos dos ideais republicanos ficam mesmo por aí; pelo território dos sonhos!

José David continua convicto de que a sua República vencerá e alista-se no exército onde rapidamente ascende à patente de capitão, não só pelas suas habilitações, mas acima de tudo pela sua valentia e capacidade de liderança.

Esta condição faz com que o nosso herói vá de abalada para França, onde entre outras contendas, viu tombar camaradas às centenas na famosa batalha de La Lyz.
De regresso a Portugal continua a celebrar o 5 de Outubro como se fosse o dia do seu nascimento. As suas convicções continuam inabaláveis e apesar dos tempos conturbados, é já em Lisboa que continua a sua luta pelo ideal em que acredita.

Em Maio de 1926 é atropelado pelo comboio salazarista que suspende a República e implementa o Estado Novo.

José David sente na pele, no sangue e nas vísceras esta aberrante imposição regimental e decide combatê-la juntando-se aos anarco-sindicalista, força política anti-salazarista que procurava fazer a vida negra ao regime, procurando derrubá-lo pelos meios que possuíam, incluindo o atentado politico.
Aspecto da cratera que deixou a bomba colocada por José David e companhia José David, Emídio Santana e mais um restrito grupo decidem atentar contra a vida de Salazar, coisa que teve lugar a 3 de Julho de 1937, quando Salazar se dirigia à capela particular do seu amigo Josué Trocato na Avenida Barbosa du Bocage em Lisboa.
A viatura é atingida, deixando no chão uma impressionante cratera, mas o ditador sai ileso do atentado.
Não se sabe, se por esta, se por outra, o nosso protagonista foi bater com os costados ao Tarrafal, esse campo de morte onde eram desterrados os opositores de Salazar.

Alberto David, pouco mais sabe da vida de seu pai, mas apesar dos anos volvidos, continua a garimpar nas memórias deste valente alentejano.

Agora, resolveu eternizá-lo na tela, para que, na voragem do tempo não se perca a figura daquele que lhe deu a vida e, dedicou a sua, à causa da liberdade.

Pela minha parte, aqui fica a sentida homenagem a este homem que não conheci, mas de que bebi com sentida emoção o relato de quem com ele privou.

O meu Bem Haja ao meu grande amigo "Pulanito" pelo post que colocou no seu blog  http://www.pulanito.blogspot.com/ , em homenagem ao meu saudoso Pai.