segunda-feira

O Outro Algarve

1 - Algarve de Ontem

Sou do tempo de um outro Algarve, outras regras e preceitos,
outra condição de gente humilde e nobre
que habitou este enredo de amendoeiras e alfarrobeiras,
gente que olhava nos céus os sinais que nunca vinham,
uma quieta intranquilidade nas estevas
que amassavam devagar o pão de trigo,
o funcho que trazia o cheiro das esteiras
onde iam secando as almas e o figo das colheitas.
.
Era o tempo de um outro Algarve encoberto nas aldeias
e nos campos onde ardia o azeite da candeia,
a lanterna que acendia a escuridão das noites
subjugadas pelo frio agreste de acreditar num dia de fortuna;
das mulheres embrulhadas em seus xailes negros
herdadas de avós árabes que há séculos aqui viveram
e do luto prolongado de quem só tem a vida,
que a vida é mais do que só para ser vivida
também é uma ventura partilhada,
um modelo prometido de amparo e claridade