quinta-feira

POLÍTICA E POLITICOS



POLÍTICA E POLITICOS

Não é fácil, com rigor, situar Torga politicamente. Antes do 25 de Abril, sem dúvida é um homem da oposição, do "contra".
Várias prisões e algumas das suas obras apreendidas.
Viajando a Paris aí convive com exilados que, em grande número, virão a constituir o Partido Socialista. Sugerem-lhe que com eles fique. Recusa com o argumento de que não se ajustará à distância do Pais.
Volta, é preso pela polícia política, e encerrado no Aljube.
O passaporte é-lhe negado várias vezes.
Preside á primeira reunião do órgão regional do Centro do Partido Socialista. Esclarece que não é filiado, e que o faz na qualidade de homem socialista que sempre foi. É mais sensível a uma ética do que a uma ideologia, mais (...) fraterno que disciplinadamente correligionário.
Afirma que não será com sistemas e métodos alheios (...) que permaneceremos de bem com o nosso semblante constitutivo e lançados na senda progressiva da democracia, (...) só o conseguiremos mediante soluções originais. (...) O capitalismo não hesita mesmo diante de um leito de sofrimento; aponta a sua incorrigível voracidade e, em outro trecho, vê raízes judaico-cristãs no comunismo.
Uns anos antes, a respeito dos intelectuais nos palcos da política, dissera: nada há de menos sociológico de que a aplicação a uma comunidade viva do estrito espírito do sistema. E acusa Sartre de ter posto o preconceito acima do conceito com o fim de promover a sua imagem, sem se importar de ter eventualmente corrompido gerações inteiras.
A sua manifesta impaciência para com os políticos e o seu distanciamento do poder, concilia-se com afirmações de que tem uma raiz anarquista. Os seus sentimentos políticos lembram um socialismo proudhoniano, com fortes interacções de um anarquismo nobre, profundamente humano, não violento. Sempre em oposição com o poder constituído, pelo que o poder representa de afastamento do humano que lhe serve de suporte.
O 25 de Abril, a par do sentido de libertação traz-lhe algumas desilusões - as perseguições, a procura de lugares. A política é para eles (os políticos) uma promoção e, para mim, uma aflição. Com ironia e descrença relata conversas que os políticos têm com ele, independentemente da convergência ou divergência no plano partidário.
Não apoia nem tem a mínima simpatia pela União Europeia. Ela ofende o seu espirito patriótico e o seu ideal de Pátria. É o repúdio de um poeta português pela irresponsabilidade com que meia dúzia de contabilistas lhe alienaram a soberania (...) e Maastricht há-de ser uma nódoa indelével na memória da Europa. Exulta com o não dos dinamarqueses ao primeiro referendo.
Sobre a regionalização, pergunta: o mundo a braços com o drama das diversidades e nós, que há oitocentos anos temos a unidade nacional no território, na língua, nos costumes e na religião, vamos desmioladamente destruí-la
Canto como quem usa
Os versos em legitima defesa.
Canto, sem perguntar à Musa
Se o canto é de terror ou de beleza

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